quinta-feira, 16 de abril de 2009

Somos um bando de palhaços tristes.

Somos palhaços encenando uma tragédia.

E acredite: há quem se divirta com isso.

Dizem que o remédio é rir, mas se nem isso eu consigo...




Mês passado eu e meu namorado fomos assistir à peça ultra celebrada, mega badalada e “campeã de audiência”, TERAPIA DO RISO, no Teatro Vanucci. Saí de lá triste. Naturalmente não era este o objetivo. A peça é em formato de esquetes- fácil de escrever, dirigir e digerir. Um retalho de estereótipos sem fim e piadinhas- clichê. A repetição da repetição da repetição. Tédio...

Os primeiros 40 minutos foram tão constrangedores quanto um pum num elevador lotado. Pensei em dar uma de louca e sair gargalhando pra quebrar o gelo, mas a algo me dizia que eu deveria permanecer quieta na minha poltroninha cultivando aquela vergonha alheia compartilhada. Olha, a peça é ruim, bem ruim mesmo, mas isto não seria um problema tão grande não fosse o fato de o ingresso custar 60 reais!! Bem, eu ganhei os convites, mas logo pensei na quantidade de pessoas frustradas que gastaram essa grana. Um casal gasta no mínimo 120 reais para estar ali aquela noite. Não estou contabilizando o valor do ônibus, taxi ou do estacionamento do shopping. Também não levo em consideração o preço da água mineral na delicatessen ao lado do teatro. 2,50 R$ a garrafinha pequena! Até os primeiros 40 minutos eu ainda bocejava quando de repente as luzes se acenderam e surgiu o tão temido momento de toda platéia de comédia: a INTERAÇÃO! Já ouvi dizer que quem tá na merda nunca se contenta em estar só. Pois é... a terapia do riso é uma peça interativa que praticamente obriga o público a participar. Me dei conta de que seria presa fácil. Meu namorado havia escolhido cadeiras na segunda fileira. Só queria me agradar, também não fazia idéia do nazismo interativo que nos esperava. Apesar de não ser o ponto mais nobre da platéia, gosto de sentar lá na frente. Gosto da energia do palco e de deixar nas minhas costas a expectativa do público. Assim fica mais fácil mergulhar na magia do teatro. Deixo pra trás os casais apaixonados, os papéis de bala, os rostos todos, os gestos, tossidas, espirros. Tudo bem que não precisa disso tudo para um espetáculo de esquetes, mas ele só queria agradar...o tiro saiu pela culatra! Logo hoje que a peça é interativa. INTERATIVA, porra! Vão me chamar no palco, tenho certeza! Vão perguntar meu nome, vão me fazer perguntas e piadas com as respostas que eu der. Não conseguia mais me concentrar em nada. Só pensava no que ia dizer quando me chamassem. Que nome eu daria? O que eu diria? Onde colocaria minhas mãos? Ah, sim. Eu já tinha um histórico em espetáculos nazistas interativos. Alguns anos atrás assisti a uma peça deste tipo com um ex-namorado tímido, muuuito tímido e branco, muuuito branco. Nós sentávamos nos fundos, mas ainda assim me enxergaram lá atrás e me chamaram para o palco. Na hora me veio uma luz divina e eu disse: “não dá. Tô com o pé machucado”. “Então vem você!” Apontaram para o tal ex. “É! Você, o branquelo de blusa vermelha”. O rosto do rapaz ficou da cor da camisa. Vamos chamá-lo de Carlos para não haver identificações constrangedoras. Carlos sofreu durante os 80 minutos de peça. Subiu no palco. Teve que dançar, interagir com os atores, dar entrevista. O público ria que se escangalhava. Aquele cara vermelho no palco, completamente desengonçado, tremendo de vergonha, sem saber onde enfiar a cara. Mesmo depois de voltar para a platéia, Carlos continuou sendo a grande atração da noite. Tinha uma passagem que o ator falava: “quero mandar um beijo para o meu pai, minha mãe e para o CARLOS!” E o povo todo olhava pra cara dele, as luzes se acendiam e o Carlos avermelhava como um tomate. Carlos virou a atração principal da noite. Na saída queriam autógrafos e fotos com ele. Na "terapia da paciência" interagiram comigo e com meu namorado, mas foi de leve...nada de palco, não precisamos nem falar, apenas sorrir um pouco...porque nessas horas é melhor se fazer de hiena. Se você não pode vencer o monstro, una-se a ele! No entanto, uma de nossas vizinhas de poltrona não gostou nada da brincadeira, se negou a interagir, fechou a cara e deixou platéia e atores em profundo estado de catatonia. Gente, falar em constrangimento novamente seria redundante. Pum no elevador? Muito pior...só uma bomba explodindo poderia nos salvar daquele momento. O horror, gente...o horror... Passado o constrangimento da coleguinha que não interagiu, a peça voltou ao seu enredo. O hippie sequelado que vende maconha, a piriguete carente e baladeira, o travesti que não precisa ser nada além de travesti. Dancinhas de funk, trejeitos pra lá de batidos...que tipo de idiota se diverte com isto? Mas a peça é “campeã de audiência!!!” Deixa quieto... Fui embora puta da vida me perguntando quando foi que a classe média emburreceu tanto? Em que momento nos tornamos palhaços de nossa própria tragédia cultural? Em que momento passamos a achar natural pagar 60 reais para ouvir piadas-clichê sobre gays, gordos, mulheres solteiras, nerds tarados e pobres? Quando foi que a gente passou a sustentar pseudo-artistas e suas vidas celebrantes e pediu às nossas empregadas domésticas que se virassem com um salário mínimo e 12 horas de trabalho por dia?
Humor inteligente dói? Sou da geração de Didi Mocó e Zorra Total, mas nunca assisti. Não rio de mulher feia, nem de gay. Não acho que mau humor feminino seja reflexo de falta de piru. Temos problemas demais para acreditar que a felicidade de uma mulher se resuma a isto.
Quando escrevi este texto ainda não havia sido publicada a notícia de que o deputado Fabio Faria (na segunda foto de cabelo escovado) usou dinheiro de sua cota de passagens aéreas pagas pelo Congresso, em viagens com sua ex-namorada Adriane Galisteu (na foto pagando peitinho), Kayky Britto, entre outras "estrelas".
Saí da Terapia do Riso meio deprê, precisando urgentemente de terapia, chocolate, cerveja, beijo na boca, antes que desse merda e baixasse a Amy. Mas aquela noite não estava perdida. Recebi um telefonema de amigos e parti para a terapia etílica que resultou em muitas risadas e causos daqueles que não esquecemos nunca. Mas a segunda parte desta noite eu conto um outro dia. Vou adiantar os personagens: Eu, Pablo (vulgo: Momocho - meu namorado maravilhoso que sempre se esforça para me agradar). Os amigos Vivi e Flávio e mais: o tarado da Cidade de Deus, a Sereia da meia noite, Marcondes- o garçom, Nelinho- o irmão do Ronaldo Fenômeno e seu companheiro- o artista plástico que se vestia de menina aos 8 anos. Teatro de Shopping nunca mais! Terapia boa é fazer amigos e se quer encontrar bons personagens vá viver, ora bolas. De preferência na rua que é lugar quente pra sorrir.

7 comentários:

Eduardo Miranda disse...

Tá vendo? É por isso que diferente da maioria estudiosa da comunicação, eu nunca falei mal de Adorno. E desconfio de peças na Barra e no Leblon a 60 reais. Não tenho dinheiro, não tenho humor para tal. Prefiro pagar 10 reais e assistir ao Sérgio Britto no centro, ou a Mary Stuart, a cinco reais, no CCBB, enfim, esse pessoal que leva teatro a sério. O Grupo Galpão, o Grupo Teatro Autônomo, gente que tem proposta de experimentação e que nem por isso esquece do humor. Agora, como vc falou, sustentar esses pseudos, não! me nego a isso... já bastam os pseudos da academia, que a gente bem conhece... É por isso também que eu resisto a essas legitimações acríticas da cultura de massa, que a gente bem conhece... cada vez menos a gente pode falar mal dessas coisas, o cerceamento é cada vez maior... é sempre "o radical", "o chato"... enfim, eu fico puuuuuuto!

Tatu disse...

AHAHAH Du, amigo...ficar puuuuuto não combina com você, um dos homens mais elegantes que já tive o prazer de conhecer. É por isso que eu tenho um blog. Aqui eu posso repetir o bordão dos chatos e dizer "gosto é gosto, ué" e eu não gosto e eu vou falar e se você reclamar comigo eu posso EXCLUIR SEU COMENTÁRIO! sem mais...
ps: Eu não falo mal de Adorno.

Tatu disse...

a propósito: vou lá que INRI CRISTO tá no Jô Soares. :-o

Eduardo Miranda disse...

hahahaha! Mas eu não disse que você não gosta do Adorno, mas nós sabemos como ele é criticado. Enfim, para além desse papinho acadêmico, a gente sabe que no mundo real a situação tá complicada, né? É isso mesmo que vc escreveu no teu post e eu falei no coment anterior. E olha que desde há muito as pessoas mais entendidas dizem que teatro no Rio não presta mesmo, é só besteirol... É redicalismo deles, mas é pra se pensar mesmo, e pensar também no público de teatro. Beijo! Inri Inri Inri In In

Tatu disse...

e eu falei mal do tropa de elite e neguinho quis me bater!!! filmim de merda, rapá!

leandro disse...

Tati, não sabia que você tinha um blog, menina! Esse episódio aí da Galisteu foi f*, o Senna deve ter se revirado no caixão. Quanto à Flora, acho que a Pat Pillar fez um trabalho bastante digno. Ela desbancou a mãe assassina da menina Madeleine na minha fantasia. Volta e meia sonho com a Flora me destratando. Não repare, passei a infância assistindo a 'Ligações Perigosas', fiquei assim perto de uma caricatura mesmo. ;)

Beijos!

Tatu disse...

Leandro, meu lindo...c anda me assustando. A mãe da Madeleine?...c acha? será?
beijos saudosos.