Eu não tenho medo da lei seca. Não costumo dirigir bêbada, ainda que já o tenha feito, mas se por acaso tomar umas cervejas e pegar no volante pretendo arcar com as conseqüências do meu ato.
Não passa pela minha cabeça usar de subterfúgios para tentar driblar a lei. Agora que os deputados fizeram o favor de nos informar, todo mundo já sabe que não precisamos produzir provas contra nós mesmos. CPI também é cultura minha gente!
Mas eu tô fora! Prefiro fazer o testezinho, ser conduzida à delega, assinar o que tiver que assinar, perder a carteira se for o caso, tudo nos conformes. Sem neura...tô na pista pra negócio.
Meus únicos medos quando me aproximo de uma blitz após ter consumido algumas inocentes latinhas de cerveja são dois: a abordagem policial e os repórteres da Record e do SBT.
Tenho verdadeiro pavor de ser filmada soprando no bafômetro!
E não bastasse a humilhação de ter meu delito tão comezinho exposto na hora do jantar, ainda ter que ouvir do repórter-juíz-perseguidor da moral e dos bons costumes, aquelas perguntas óbvias que nos fazem indagar pra que mesmo é que serve a faculdade de jornalismo: “a senhora bebeu?” (não sinhô! irc...ô tô voltanu da missa..irc!) “quanto a senhora bebeu?” (tem sempre um doidão que JURA que "foram só duas latinha....irc!" fazendo o sinal do número 5 com a mão)
“a senhora não sabe que poderia causar uma acidente?” E por aí vai...
E depois do circo armado o âncora completa emocionalmente abalado: É UM ABSURDO!
E a cara de tacho dos seus pais engolindo a seco o bife da janta...
Aquela amiga maledicente da sua mãe liga na hora pra sua casa: "Acabei de ver a Tatiana na tevê. Bem que ela disse que um dia estaria em rede nacional. Danadinha!"
Você, ao vivo no programa do Wagner Montes, pensa: “porra! Eu só bebi umas latinhas, não atropelei ninguém. Não matei, não roubei, não ofereci resistência. ..nem bêbada eu tô! Precisa disso tudo? Será que eu não posso ser conduzida à delegacia e cumprir aquilo o que a lei me determina? Faz parte da pena virar chacota nacional?"
Nem pense nisso, caro amigo de sarjeta. Qualquer coisa que você diga ou até pense pode ser usada contra você e periga sua tia maledicente fazer outro telefonema pra sua casa: "Nooossssaaaa! Mas ela tá ruim mesmo, hein! Será que é crack? Estou aqui para o que precisar, viu?"
Nada de escândalos, nada de revolta. Resigne-se ao papel de mico de circo que você se transformou depois daqueles 4 choppinhos com o pessoal da faculdade.
Deve ser falta de notícia. Só pode...porque a nova agora é essa. O cara bebe duas latinhas, não passa no teste do bafômetro e a fuça dele está no dia seguinte em todos os jornais.
O chefe, que fez o mesmo na noite anterior, vai ser obrigado a despedi-lo. Não fica bem para a imagem da empresa. ..
Ainda bem que ninguém assiste aos jornais da Record e do SBT mesmo.
Bom, meu segundo medo, a polícia, eu não preciso nem explicar, preciso?
O maior problema da lei seca não é a diminuição da renda mensal dos garçons e donos de botecos que agora vão ter que aumentar o preço do ovo colorido. Tão pouco seria a morte da happy hour às sextas-feiras, na minha opinião, quase um patrimônio histórico brasileiro.
O problema da lei seca é que, como tudo o que envolve leis e crimes no país, vira julgamento público e daí pra virar circo é um pulo. Ah! E não se engane...os palhaço é nóis!!! De novo...irc!
Parodiando meu amigo E doo: cada um tem o jornalismo que merece.
