quarta-feira, 8 de abril de 2009

Carnaval Carioca - PARTE 2

SAI DO CHÃO! SAI DO CHÃO! SAI DO CHÃO!" (tá bom...já entendi...)






Acho que podemos nos orgulhar de fazer o carnaval mais democrático do país. Ao menos pra quem vive aqui.
Carnaval sem abadas milionários, com blocos por toda a cidade, para todos os gostos e o melhor: sem redutos definidos e fechados, todo mundo misturado. Não conheço de perto o carnaval de Salvador, mas o preço dos abadás e os relatos de quem curte os dias na cidade sem a camisa-ingresso dão algumas pistas do contracenso entre o carnaval do turista e o do morador da cidade. Tive uma breve idéia a respeito assintindo o documentário “Cordeiros” de Amaranta Cesar e Ana Rosa Marques . Aí vai a sinopse deste documentário que eu achei fantástico:

"A palavra "cordeiro", na sua acepção mais comum, remete às características do animal homônimo: pacífico, submisso, obediente. Mas ela comporta um outro significado, quando se refere às pessoas, homens e mulheres, na sua maioria negras, moradoras dos subúrbios da cidade, que durante o carnaval de Salvador sustentam as cordas que delimitam o espaço a ser ocupado pelos blocos nas ruas. É trabalho do cordeiro empurrar de volta à calçada qualquer um que, sem ter pago a fantasia do bloco, tente brincar num espaço que é público, mas que durante o carnaval é comercializado pelos blocos carnavalescos. Assim, os cordeiros encontram-se nas trincheiras da luta pelo exíguo território das avenidas, cuja organização reflete a divisão e a desigualdade que caracterizam a geografia e a estrutura social da cidade de Salvador.
Nas longas e inúmeras transmissões televisivas da maior festa popular do mundo, não há imagens dos cordeiros. Vista de cima, através das lentes da televisão, as cordas do carnaval de Salvador formam uma fronteira invisível, camuflada entre os corpos.
Composto por imagens, sons e entrevistas captados durante três carnavais (2004, 2005 e 2007), « Cordeiros » é um documentário que, de maneira inédita, lança um olhar sobre os cerca de 80 mil homens e mulheres que trabalham como cordeiros no carnaval de Salvador. O documentário pretende tornar visíveis as condições deste trabalho e as fronteiras que os blocos desenham nas ruas. Através das imagens e das vozes dos cordeiros, a corda torna-se um objeto estranho, perturbador, violento; uma metáfora explícita das tensões entre incluídos e excluídos, brancos e negros, ricos e pobres. Nesse processo, o próprio ato de filmar torna-se objeto de reflexões e tensões."

Nosso desafio agora é conseguir manter um carnaval alegre, sem brigas, pra todo mundo. Sem cordeiros, sem abadás pagos e com organização. Sem redutos definidos, mas com espaços delimitados, de modo que não atrapalhe o trânsito e o sossego dos que não podem ou simplesmente não querem participar da festa.
Os desafios dos dois maiores carnavais do Brasil não são tão diferentes. O carnaval em Salvador movimenta muito dinheiro para poucos e aqui o desafio maior dos blocos de rua ainda é respeitar a liberdade daqueles que só querem o sossego.
Afinal, o carnaval que você quer pro outro é o carnaval que você quer pra você?




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