domingo, 8 de novembro de 2009

E até 2016...



Este artigo escrevi por motivos profissionais que não tem nada a ver com o blog e como estou muuuuito sumida, aproveito apra postá-lo aqui.
Beijos a todos e até 2016...

Passada a euforia provocada pela notícia de que o Rio de Janeiro sediará as olimpíadas de 2016, focamos agora nossa atenção nos obstáculos que vamos enfrentar para não fazer feio frente ao resto do mundo nestes dias de competição.
No mesmo mês do anúncio, favelas da zona norte da cidade enfrentaram uma semana de tiroteios diários entre traficantes e policiais com o saldo de mais de 25 mortos desde o dia 17 de outubro. O que foi chamado de guerra urbana em toda a mídia nacional, tornou-se notícia em jornais do mundo todo, provocando desconfiança em nossa capacidade de manter a cidade segura para os jogos. Em contrapartida, o governo federal anunciou uma ajuda de 130 milhões para combater a violência no Rio.
Durante anos investimos em uma política de segurança pública que combina repressão em áreas de conflito, corrupção e pouco investimento social.
Tão perigoso quanto insistir em uma estratégia já repetida e falida é refletir sobre o quanto mais investimos em contenção da violência sem um retorno eficaz, mais alimentamos uma sociedade intolerante, que vê no outro sempre uma ameaça em potencial.
Ora, se gastamos tanto de nossos recursos para combater o tráfico de drogas e ainda assim não o conseguimos, a solução, para os intolerantes, seria então partirmos para a matança. É apoiado neste pensamento, neste sentimento de frustração, que políticas públicas que só oferecem mais do mesmo ganham força, em um circulo vicioso de violência.
O que torna uma cidade segura? Em primeiro lugar, olhar o outro com igualdade já pode ser um caminho. Para isto, é preciso que a secretaria de segurança não trate os moradores de favelas como marginais, que a educação seja um direito de todos, para que possamos ter o mínimo de igualdade de oportunidades e que a renda possa ser distribuída com criação de empregos. Carros e helicópteros blindados só nos trarão o saldo de mais algumas mortes e nada além.
Não precisamos de mais assassinatos registrados como autos de resistência ou de mais prisões de traficantes que em pouco tempo serão substituídos por outros.
O tráfico de drogas é a tampa da panela que esconde problemas latentes na cidade do Rio, dentre os quais a falta de perspectiva dos jovens mais pobres. É neste sentido que os investimentos para as olimpíadas devem se dirigir.
Não precisamos de mais policiais subindo as favelas com armas em punho e colocando suas vidas em risco por um dos menores salários da corporação em todo o país. Não precisamos de mais jovens morrendo, sejam eles traficantes ou não. Tão pouco necessitamos de mais da mesma política que reprime os mais fracos e finge proteger uma minoria que se contenta momentaneamente com o sangue e as prisões que presencia diariamente nos telejornais.
Temos, como sede olímpica, a grande chance de provocar mudanças significativas em nossa cidade. Porém, seria um erro investir apenas na construção de hotéis e estádios esportivos que com o passar dos anos permaneceriam como um enorme elefante branco, sem utilidade e gerando ainda mais gastos em manutenção.
Se quisermos uma cidade de paz e não apenas durante os jogos, precisaremos investir em educação, geração de empregos, acesso ao esporte, fortalecimento cultural e da auto-estima da nossa população, através de uma política de segurança que não massacre, mas que proteja com igualdade.
Este mês assistimos a um crime que chocou todo o país. O roubo seguido de morte de Evandro João da Silva, coordenador do Afroreggae, um de nossos mais importantes projetos sociais. Policiais estão sendo investigados por roubar os pertences de Evandro e por omissão de socorro, o que resultou em uma acusação de latrocínio - o que considero uma injustiça, assim como a demissão do porta voz da PM, pelo governador Sérgio Cabral. - estes são os bodes expiatórios da vez e tudo continua na mesma.
O "caso Evandro" é perfeito para ilustrar o quão irônica podem ser nossas escolhas. Evandro e seu trabalho com o Afroreggae provavelmente fizeram muito mais pelo Rio do que nossa política de segurança jamais foi capaz de fazer em todos estes anos de balas perdidas e prisões em horário nobre.

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