segunda-feira, 6 de julho de 2009

“fumaça vai, fumaça vem, hein... chapou o côco! Se abriu que nem uma flor, ficou louco...” (Racionais).

 
Não tem muito tempo, eu bebia um chopp em Copacabana com meu namorado e uns amigos do trabalho dele, quando um deles me chamou atenção pro fato de que eu estava de frente para uma das cracolândias da cidade. Eu não fazia idéia de que aquela praça, a uma quadra da praia, onde costumava-se vender livros usados, tinha se tornado cenário de uma das coisas mais tristes que se pode ver nos dias de hoje.
Lembrei de quando os cariocas batiam no peito orgulhosos porque o crack era droga de paulista. “Imagina! Nossos traficantes não trabalham com uma droga assassina como esta!” O que foi que mudou?
Imagino pouca coisa mais triste do que uma criança dependente de crack. Aliás, imagino pouca coisa mais triste do que qualquer pessoa dependente de crack. E se você lamenta, mas não chega a se comover...se você acredita que o vício ainda é uma opção dos fracos, então trate de mudar sua opinião, pois eu não dou 10 anos para a comunidade de rua viciada em crack dobrar de número e este pensamento seletivo não ajudará em nada. Não há indiferença que resista à violência que esta droga causa...
Saudades de quando a gente ainda se espantava com os meninos de rua, flagrados pelas câmeras do Fantástico, cheirando cola e batendo carteiras na praça da Sé...
O crack começou a se alastrar através dos moradores de rua, mas hoje é uma das drogas mais usadas também pelos lavradores, os bóias-frias do interior do nosso país e já avança pela classe média. De fato, não deve ser nada fácil viver nas ruas das grandes cidades brasileiras...invisível, imundo como um cão sarnento, esfomeado, sem nome, dignidade, identidade ou qualquer privacidade... odiado pela cidade, a polícia, a imprensa, os comerciantes...vivendo das esmolinhas e das sopinhas ralas doadas por aqueles que não desistem nunca! Não há cenário mais propício para o crack ganhar força...
Eu não sei qual a solução para isso tudo, mas garanto: a indiferença é a postura mais perigosa que podemos adotar. E mais: desconfio que nas próximas eleições este venha a ser um dos assuntos mais recorrentes. E desconfie...desconfie sempre dos que juram que modificarão as leis (não há nada mais difícil de ser aprovado do que uma lei. E também não há nada mais inútil do que se criar mais leis onde as que já existem não são cumpridas). Desconfie de quem promete que a comunidade de rua será exterminada num passe de mágica, como se estivéssemos falando do côcô do cachorro que se recolhe cuidadosamente com uma pá.
Desconfie dos choques de ordem facistas e milagrosos e dos discursos tolerância zero a lá Bolsonaro.
Desconfie dos políticos que falam de bandidos, viciados e moradores de rua como um problema sem alma, sem rosto, sem pele, sem carne.
Desconfie de quem os vê como coisa, pois eles não são, nem jamais serão.
E ainda que nada disto o comova, ainda que o humano que há em você seja reservado aos seus e que pouco lhe importe como se tratam os indigentes, desde que isto não o incomode, não se esqueça que apesar do ‘indi” eles ainda são “gente” e se viciam e se multiplicam e sentem e sofrem e nascem e amam e matam e morrem.

Esse blá blá blá todo foi para chamar a atenção para esta reportagem da Carta Maior, publicada em Maio deste ano, que vem com uma seleção de fotos angustiante e um ponto de vista crucial no drama do crack: o daqueles que vivem nas áreas dominadas pelos usuários.
POR FAVOR, LEIAM!

http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16012&boletim_id=557&componente_id=9579

2 comentários:

Anônimo disse...

A despeito de eu ter a internet como ponto de encontro de opiniões em comunidades do tal orkut, confesso que na maioria das vezes não passam de despretensiosos embates filosóficos onde se discorrem reflexões absolutamente desnecessárias e insólitas. Erudição, ideais de perfeição e a busca do belo... Definitivamente esquizofrênicos de um mundo virtual e ideal.
Hoje tomei coragem e fiz uma visita ao blog da Tati. Condicionado ao desnecessário, fui pego de surpresa.
E falar em crianças é falar de futuro, vida e esperança.
A gravidade social em que vivem esses jovens (não mais de 13 ou 14 anos, os da foto) é ignorada. Na maioria das vezes por não queremos ver. E o mais grave de tudo é que não vemos mesmo.
Aqui vai meu emocionado comentário sobre tão adequado texto da blogueira, minha fã incondicional, pela sua abordagem clara e direta sobre nosso dia-a-dia sem muita frescura, pragmática e com muita sensibilidade.
Beijo grande e parabéns, Tati, linda.

Tatu disse...

brigada, titio Cráudioooo
meu tio culto e maravilhoso que eu tenho muito orgulho. Um beijo enorme tiooo! Mmmmmuááá!!! ;-*