quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

De como nascem as estrelas

Legenda auto-explicativa: eu, ao fundo, na apresentação de sapateado

Quando criança sonhava com a vida de atriz. Lembro até hoje da primeira vez que assisti a uma peça de teatro. Fui ver uma montagem de Pluft, o fantasminha, com a Lucélia santos. Foi um dos dias mais felizes da minha vida! Queria que não acabasse nunca!
Mais ou menos nesta época, eu devia ter uns 9 anos, fui o pente com dor de dente na pecinha de fim de ano da escola. Eu queria ser a margaridinha de sainha curtinha ou o gato que usa sapato, mas fui o pente. Era a apresentação daquela canção: quem mora na casa torta sem janelinha e sem porta...
Fui de pente, mas me neguei a amarrar um pano de prato na cabeça pra fingir a tal dor de dente. Teve protesto até da diretoria, mas não teve jeito! A roupa de pente já era humilhação o suficiente para uma grande atriz como eu.
Na verdade, eu já tinha marcas deixadas por um trauma anterior. Trata-se da primeira vez que pisei em um palco. Devia ter uns 6 anos de idade.
As professoras da minha escola organizaram uma pecinha. Pensei: é a minha chance! Na hora de escolher os personagens principais rezei baixinho, fiz figa, apelei pra todos os santos. Jurei estudar mais, fazer menos malcriação. Barganhei de tudo com Deus por um papel que tivesse fala.
Mas eu havia esquecido do meu pior inimigo: a didática perversa das professoras de maternal da minha época.
A personagem principal tinha que ser loura e ponto. Meu primeiro momento "Maysa lifestyle: meu mundo caiuuuuu....”
Mas por que loura? O personagem principal é uma...porquinha! Porcos não são louros, ruivos ou negros. Porcos são porcos e eu posso ser um porco, posso ser até um avestruz. Só preciso de uma chance pra mostrar o meu talento (hehehe eu sei, parece papo de ex-bbb).
Eis o veredito: “A porquinha PIRULA será a Raquel porque ela é lourinha e tem os cabelos compridos e cacheados”.
Beleza...ainda tem a mãe da porquinha. Quem sabe tenho chances.
“A mãe da porquinha será a Marília”, revelou a megera!
A Marília estava em todas. Além de ser a filha da diretora, também era loura, boa aluna, comportada, caprichosa.
E não é que a única loura da turma que sobrou sem personagem chorou, deu piti, fez um escândalo porque não ia ser nem porquinha, nem mãe da porquinha!??
Era a Thatiana. Outra, não eu, mas dela eu falo mais tarde.
Pois bem, a pecinha teve duas mães. Cada uma entrou em uma cena. Na minha cabeça de criança de 7 anos de idade isso iria confundir a platéia, mas não na cabecinha oca das minha professoras.
O que me emputeceu, na verdade, é que minhas coleguinhas louras nunca quiseram se tornar atrizes, ao menos não falavam no assunto. Elas queriam ser professora, médica, bailarina, modelo... quem queria ser atriz era eu e as tias cagaram pra minha vocação.
Conformada, esperei pacientemente pela definição do meu papel.
“OLHA QUE LEGAL TATIANA!VOCÊ VAI SER A ÁRVORE!
Minha chance de falar no palco ia, definitivamente, pra casa do caralho!
A professorinhas da escolinha castelinho de areia recortaram uma árvore em papelão. Tinha o tronco e as folhas com um buraco no meio pra eu enfiar a cabeça. Eu ficava numa ponta e um menino da turma, também de árvore, na outra e a gente tinha que passar a peça inteira segunrando um arco –íris, também de papelão. Quando vi aquela roupa de árvore fiquei muito puta! Meu companheiro de fantasia, no entanto, era só felicidade. “ainda bem que não me deram nenhum papel de lenhador ou coisa assim. Prefiro ficar aqui de árvore, disfarçado...”
Pente, árvore...vida injusta.
A pecinha começou...os flashes pipocavam...todos os olhares estavam voltados para pirula e suas duas mães. De repente eu surtei! Meu primeiro momento Dercy Gonçalves lifestyle: Vai todo mundo tomar no cú nessa porra, caralho! Árvore é a puta que til paril!
Desci do palco chorando, arranquei a roupa de árvore , expus meu coleguinha que só queria o anonimato... Enfim, eu acabava de me tornar uma atriz.

Marília, a mãe número 1, hoje é dentista e continua a boa moça de sempre. Casou-se linda de véu, grinalda e luvas brancas e está esperando seu primeiro filho (salve! Que venha cmo muita saúde e vocação pra felicidade)

Thatiana, a que deu o piti e se tornou a mãe 2, era daquelas que queria dominar a classe inteira. Zombava das meninas mais pobres e também das mais feias...mandava todo mundo calar a boca. Humilhava as meninas mais bobinhas e manipulava os meninos humildes. Ela acabou se tornando uma das minhas maiores inimigas na adolescência, de marcar de se encontrar pra porrada no fim da aula e tudo. Não sei o paradeiro dela e apesar das ameaças, nunca partimos pros finalmentes, nem puxão de cabelo rolou. A gente só espumava na hora do recreio, se xingava e voltava pra aula.

Raquel se tornou a eterna PIRULA. Até hoje, meu pai, quando a encontra, a chama assim. Essa aí foi uma grande parceira na adolescência! Cortou os longos cabelos louros tipo joãozinho, pintou de ruivo e aprendeu a beber. Era uma das meninas mais inteligentes da turma, humor irretocável, circulava por todos os grupos.
Hoje ela é religisoa, cuida de três filhos, cresceu, amadureceu, mas continua sendo a pirula...eterna pirula...brilhou no palco da escolinha maternal castelinho de areia e hoje, pensando bem, vejo que aquele papel era perfeito pra ela e que aquela árvore de papelão caiu como uma luva pra mim.

4 comentários:

Anônimo disse...

Essa é a minha mulher! Brilhante, inenarrável. Como ela pode transformar algo que um dia foi ruim em algo positivo e engraçado.

Bee disse...

fiquei com os musculos da bochecha doloridos... rsrsrs só que vamos trabalhar!!!!!! atualizaaaaaaaaaaaaaaa

Tatu disse...

Deixa comigoooooooo, Bruninha!
Depois desse festival de samba, suor e cerveja, assunto é o que não falta.

Unknown disse...

Amiga,vc é fora do normal, amei!!!!Já te falei que vc deixa Claudinha Rodrigues no chinelo, falta mito pra ela alcançar o teu nível, sagaz e inteligente essa é a pequena grande Tatu (?!?), amiga da velha infância...Adoro vc! Um bj! Da tua amiga Rachel, a eterna Pirula!